O discurso de Lupita Nyong'o e a cor da beleza verdadeira
Depois de me emocionar e pensar bastante com o vídeo e o discurso, achei que o assunto seria bem válido aqui para o blog.
O vídeo é do discurso de Lupita Nyong’o, a ganhadora do Oscar 2014, na premiação do Black Women in Hollywood. O vídeo está abaixo, e a tradução dele, logo na sequência. O mais legal é que Lupita é a estrela do momento, acredito que isso possa ser um grande exemplo e inspiração para essa nova geração.
Aqui no blog a gente fala muito de beleza e cosméticos, mas isso é só uma forcinha a mais
"O que interessa de verdade é quem somos, dentro do coração e da alma, e não a cor da pele, do cabelo ou os números da balança. Não interessa o quão top model somos por fora, o que nos torna pessoas boas de verdade, é o que temos por dentro." Muito inspiradora as palavras da Lupita!
Tradução do discurso de Lupita:
“Eu queria aproveitar esta oportunidade para falar sobre beleza. Beleza negra. Beleza escura. Recebi uma carta de uma menina e gostaria de compartilhar uma pequena parte dela com vocês: “Querida Lupita, acredito que você é muito sortuda por ser negra e ter sucesso tão rapidamente em Hollywood. Estava quase comprando o creme ‘Dencia’s Whitenicious’ para clarear minha pele, quando você apareceu no mapa e me salvou”.
Meu coração sangrou um pouco quando li estas palavras. Nunca poderia imaginar que meu primeiro emprego depois da escola seria tão poderoso e me tornaria numa imagem de esperança, da mesma forma que as mulheres de “A Cor Púrpura” foram para mim.
Me lembro de uma época quando eu também me sentia feia. Eu assistia TV e só via brancas, fui provocada e insultada por ter a pele da cor da noite. Minha única prece para Deus, o milagreiro, era acordar com a pele clara. O dia amanheceria, eu estaria tão empolgada que me recusaria a me olhar até estar em frente a um espelho e ver pela primeira vez meu rosto claro. E todos os dias eu experimentava o mesmo desapontamento de ser tão negra como era no dia anterior. Tentei negociar com Deus: disse que pararia de roubar cubos de açúcar à noite se ele me desse o que eu queria; escutaria todas as palavras da minha mãe e nunca mais perderia meu moleton novamente se ele me fizesse um pouco mais clara. Mas acho que Deus não se impressionou com minhas barganhas porque Ele nunca me escutou.
Quando era adolescente, minha falta de amor próprio ficou pior, como acontece normamente nesta idade. Minha mãe me lembrava com frequência de como me achava bonita mas isso não me consolava. Ela é minha mãe, é claro que ela deveria me achar bonita. E então Alek Wek apareceu na cena internacional. Uma modelo famosa, escura como a noite, que estava em todas as passarelas e em todas as revistas, e todos estavam falando em como ela era linda. Até a Oprah disse que ela era bonita – e isso tornou tudo um fato. Eu não conseguia acreditar em como as pessoas estavam achando bonita uma mulher que se parecia tanto comigo. Minha pele sempre foi um obstáculo a ser superado, e de repente, Oprah estava me dizendo que não era. Foi desconcertante e eu queria rejeitar isto porque estava começando a curtir a sedução da inadequação.
Mas uma flor não poderia deixar de florescer dentro de mim. Quando vi Alek, vi um reflexo de mim mesma que não poderia negar. Agora, tinha uma mola em meus pés e me sentia mais vista, mais apreciada pelos guardiões da beleza, mas a minha volta a preferência pelas peles claras continuava a mesma. Para os espectadores que eu achava que eram importantes, eu ainda era feia. Minha mãe diria novamente, “Você não pode comer beleza. Isto não te alimenta”. E essas palavras me atormentavam e me incomodavam, eu não as entendia realmente até finalmente descobrir que beleza não era algo que poderia adquirir ou consumir, era algo que eu simplesmente tinha que ser.
E o que minha mãe queria dizer quando falava que não se pode comer beleza, era que não se pode confiar em como se aparenta para sustentar quem você é. Beleza fundamental é a compaixão com você mesmo e com aqueles ao seu redor. Este tipo de beleza infla o coração e encanta a alma. Foi o que deixou Patsey (sua personagem em 12 Anos de Escravidão) com problemas com seu mestre, mas foi também o que deixou sua história viva. Nós lembramos da beleza do seu espírito mesmo depois da beleza do seu corpo já ter desaparecido.
Então, espero que minha presença em sua tela e nas revistas, posso levar você, garota, para uma jornada similar. Que você possa sentir a validação da sua beleza exterior, mas também leve a sério a importância da beleza interior. Esta beleza não tem cor.”
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